ARTIGO/POLÍTICA
Por João Batista de Jesus Fazan
No Brasil, um país marcado por sua diversidade cultural e vastidão territorial, a política ainda é contaminada por um mal antigo e viciado: o coronelismo. Esse sistema arcaico, e pré-histórico do século passado, ainda está enraizado nas entranhas da nossa história, persiste até os dias de hoje, minando o progresso, desacreditando o ato de votar e colocando em risco a nossa democracia.
Uma das faces mais sombrias desse fenômeno é a perpetuação no poder dos velhos mandatários de partido. Estes, em conluio com elites políticas locais, impõem uma verdadeira ditadura de influência, barrando novos candidatos que representam ideias progressistas e mudança. Assim, o ciclo vicioso do poder se mantém, engessando o sistema político e impedindo a uma renovação que se faz tão necessária hoje.
O grande problema desse tradicionalismo político é que ele compromete a representatividade e a efetividade das instituições democráticas e de direitos. Candidatos que pleiteiam cargos eletivos e que realmente poderiam representar os interesses da população são silenciados, enquanto os antigos caciques políticos monopolizam o cenário, muitas vezes utilizando práticas clientelistas e eleitoreiras para manterem-se no poder.
A consequência direta disso é o desencanto do eleitorado. Muitos cidadãos se sentem desmotivados a participar do processo democrático, pois, muitos enxergam na urna eleitoral apenas como um objeto qualquer, pois sentem-se que sua voz foi abafada pelos interesses escusos dos poderosos locais. Há uma descrença no processo de sistema político, que leva à alienação e ao distanciamento dos cidadãos dos assuntos públicos, o que é extremamente prejudicial para a saúde da democracia.
Essa subjugação do interesse político individual ao domínio dos mandatários é uma violação flagrante da essência da democracia, onde cada voto deveria refletir livremente a vontade e os interesses do eleitor. No entanto, o coronelismo político retira dos cidadãos essa capacidade de serem verdadeiros agentes de mudança, transformando-os em meros peões em um jogo de poder controlado por elites autoritárias.
Para muitos eleitores, votar torna-se apenas um ato mecânico, desprovido de significado e influenciado por manipulações e favorecimentos prévios. Essa desvalorização do voto como instrumento de expressão política e mudança social mina os pilares da democracia, corroendo a confiança dos cidadãos nas instituições e no próprio sistema político.
É como se o eleitor fosse privado da essência de sua cidadania, reduzido a um mero espectador passivo de um teatro político onde as cartas já estão marcadas de antemão. Esse desencanto generalizado mina a participação cívica e a capacidade dos cidadãos de reivindicarem seus direitos e influenciarem os rumos do país.
Além disso, o tradicionalismo arcaico (coronelismo) político acaba por favorecer uma cultura de dependência, suposta amizade, tapinhas nas costas, apertos de mãos e clientelismo. Muitos eleitores são cooptados com promessas vazias e favores pessoais, sem compreenderem que estão sendo manipulados para servirem aos interesses de uma pequena elite no poder. Essa prática, que deveria ter sido banida há tempos, perpetua a desigualdade social e impede o verdadeiro desenvolvimento do país.
A máxima é que os puxa-sacos, lacaios, baba ovos e outros querem defender somente o dele, o resto… é! Bem o resto é resto. Simples assim.
Para os mais desfavorecidos economicamente, essa situação é ainda mais grave. São eles os maiores prejudicados pelos “coronéizinhos”, pois têm suas necessidades e demandas ignoradas em prol dos interesses de uma elite ou da elite. A falta de representatividade efetiva no poder legislativo e executivo impede que políticas públicas voltadas para a inclusão social e a melhoria das condições de vida dessas pessoas sejam implementadas de maneira adequada.
Diante desse cenário desolador, é urgente que a sociedade brasileira se mobilize em busca de soluções para combater essa prática política. É preciso exigir transparência, participar de debates, cobrar de seus representantes, e fazer valer a democracia interna nos partidos políticos, para que as decisões não fiquem restritas às mãos de uma elite privilegiada.
Devemos repudiar práticas clientelistas e eleitoreiras, devemos romper com o passado sombrio e ditatorial a fim de construir uma política livre de vícios e laços particulares.
Foto: “Coronelismo” da UFPA